‘‘Isto aqui não é filme de ação, não (...) o show (...) é para o Brasil ver mesmo.
Não tenho nada a perder (...)’’
Sandro do Nascimento
O episódio que ficaria marcado como “seqüestro do ônibus 174”, ocorrido no dia 12 de junho, de 2000, no Rio de Janeiro, chocou toda população que pôde acompanhar em tempo real cada detalhe desse fato que marcou a história do país.
O documentário, dirigido por José Padilha, retrata as 4 horas de tensão de todos que presenciaram e se envolveram com o desespero das vítimas, a revolta do seqüestrador e a preocupação dos policiais para que tivesse o melhor desfecho possível. Além de mostrar relatos de envolvidos, ele contextualiza as cenas com informações sobre o Sandro do Nascimento, como por exemplo, que ele foi uma das vítimas da Chacina da Candelária em 1993, um dos motivos de sua revolta que por diversas vezes enfatizou durante o seqüestro.
A fala de Sandro sintetiza o espetáculo criado pela imprensa em torno do seqüestro do Ônibus 174. A transmissão ao vivo, para todo o país, apesar de registrar detalhes de toda aquela circunstância, não conseguiu transmitir para o espectador toda dramaticidade de quem estava ali. Com o documentário, José Padilha não só mostra isso, como também procura entender o que o levou àquele ato, analisando a vida do seqüestrador.
Diante da reação de Sandro, em se sentir no comando da situação, ficou evidente a influência da mídia, não só em sua atitude, como na dos policiais que não souberam controlar como deveriam aquele angustiante espetáculo. A presença da imprensa no local e os registros de cada ação naqueles momentos foram decisivos no rumo e na proporção que tomou o seqüestro. As câmeras serviram como um meio para o Sandro se mostrar para a sociedade que ignorava não só a ele, como também a centenas de pessoas que vivem à margem e não tem voz, nem vez. A mídia naquele momento se tornou uma janela aberta para ele, que estava acostumado com os limites das grades. Enquanto para ele toda aquela exposição servia como uma segurança, por saber que o BOPE não iria expor para milhares de pessoas cenas “fortes”, para o próprio batalhão da polícia aquilo era um entrave, limitando as suas ações, inclusive através de ordens superiores.
O modo como foi conduzido o seqüestro do primeiro instante em que as câmeras são ligadas até o seu desastroso e trágico desfecho, com a morte da refém Geisa Firmo e de seu algoz Sandro, deixou evidente o poder de interferência da mídia diante de fatos. As perguntas que prevaleceram em quem acompanhou essas horas de pânico ao vivo, ou em quem assistiu o documentário provavelmente são as mesmas: Se a imprensa não estivesse presente o seqüestro duraria tanto tempo? Sandro teria atirado nos reféns? A polícia teria atirado nele?
Questionamentos que ficaram sem respostas, mas que serviram para abrir os olhos de uma sociedade tão acostumada a se fechar e ignorar o que está em torno de todos. A televisão naquele dia mostrou um dramático episódio. O documentário detalhou uma realidade ainda mais drástica que atinge “Sandros” de todo Brasil: a omissão diante daqueles que precisam ser ouvidos e vistos.